27 de outubro de 2025

Reduzir uma doce de álcool por dia evitaria 157 mil casos de câncer no Brasil até 2050

Se os brasileiros reduzissem uma dose de bebida alcoólica por dia, o equivalente a uma lata de cerveja de 330 ml (cerca de 12 gramas de álcool), 157,4 mil mortes por diferentes tipos de câncer poderiam ser prevenidas nos próximos 25 anos. A projeção vem de relatório elaborado a partir de uma nova plataforma digital, recém-lançada pela Vital Strategies, organização global de saúde pública que trabalha com inteligência de dados e políticas públicas baseadas em evidências, e que deve servir de modelo para outros países. A ferramenta combina evidências da relação entre o consumo de álcool e risco de morte por diferentes tipos de câncer com dados sobre o uso da bebida pela população. As projeções mundiais indicam que das 11 a 14 milhões de mortes por câncer que devem ocorrer até 2050, mais de 415 mil são atribuíveis às bebidas alcoólicas. Entre os tumores estão os de esôfago, de cólon e reto, de boca, de laringe e faringe, de mama e de fígado. De acordo com a médica Mary-Ann Etiebet, 51, CEO e presidente da Vital Strategies, assim como as mortes relacionadas ao cigarro, óbitos associados ao álcool podem ser evitados com a adoção de políticas públicas e outras estratégias semelhantes às usadas nas campanhas antitabaco. "No Brasil, vimos uma redução de 74% no consumo de cigarro [desde 1989] com diferentes políticas, reformas legais, regulatórias, campanhas educativas. E vimos a prevalência do câncer de pulmão cair também. Sabemos que essas políticas funcionam e sabemos como fazê-las", disse à Folha, durante evento no Centro Brasileiro Britânico. Natural da Nigéria e com cidadania americana, a médica iniciou sua carreira em programas de HIV/Aids no seu país natal e, depois, liderou iniciativas globais sobre cuidados maternos na farmacêutica Merck. Segundo ela, países como Finlândia, Dinamarca, Lituânia e Sérvia estão entre os que possuem políticas mais maduras de controle de álcool. "Isso pode ser feito por iniciativas dos governos mas também com engajamento, educação e aumento da consciência do público." No Brasil, metade da população adulta consome bebidas alcoólicas. Esses produtos fazem parte da primeira fase de regulamentação da reforma tributária, que criou o imposto seletivo, que prevê aumento de taxas aos produtos prejudiciais à saúde para desestimular o consumo. "Com os enormes cortes em financiamento para a saúde global, muitos países, especialmente na África, estão olhando para as taxas de saúde como uma solução para ajudar a gerar mais renda em benefício da saúde pública." A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda aos países "acelerar as ações para atingir reduções de 20% no consumo de álcool até 2030". Além do câncer, há outras 24 doenças associadas às bebidas alcoólicas, como cirrose e outras doenças hepáticas, epilepsia, doenças hipertensivas, hemorragia intracerebral e cardiopatia isquêmica, além de agravos por violência e acidentes de trânsito.Para Mary-Ann, como a população de uma forma geral ainda não reconhece a conexão direta que há entre o consumo de álcool e o risco de desenvolver câncer, a plataforma chega com a missão de traduzir os dados de forma que eles façam sentido à vida diária dos moradores. "As pessoas perdem 30 dias de trabalho [no ano] para cuidar de um membro da família sofrendo de câncer. Ou não vão trabalhar um dia por mês por causa do álcool. Essas coisas estão ligadas à produtividade, à renda e ao desenvolvimento econômico", explica. Em 2022, o tratamento do câncer no Brasil custou ao SUS (Sistema Único de Saúde) R$ 3,9 bilhões (cerca de US$ 722 milhões). O valor, que não inclui gastos privados, deve aumentar 68% nos próximos 20 anos, uma vez que são estimados quase um milhão de novos casos em até 2040, de acordo com a plataforma. Folhapress 

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